Carta para uma mulher grávida

            Querida mamãe, e te chamo de mamãe porque ainda que o seu bebê não tenha nascido, você já é mãe. Já sente isso, não é? Não é verdade que você já se sente mãe desde o momento que descobriu que estava grávida?
            Você está preparada para amar alguém mais do que jamais imaginou que seria capaz? Mais do que a sua própria vida?
            Você está, eu sei que está. 
            Mas calma, porque este sentimento não nasce assim que o filho chega ao mundo para todas as mulheres. 
            Tudo bem se nas primeiras semanas você não se reconhecer ou se todos ao seu redor estiverem celebrando a chegada do bebê e você não esteja no mesmo clima. Não se sinta culpada: isso se chama puerpério. 
            O que? Ninguém te falou sobre isso? Como eu entendo você! Pra mim também ninguém me falou sobre ele. Eu mesma não havia me dado conta dele mesmo sendo pediatra. A verdade é que fiquei muito aborrecida quando entendi o que era o puerpério, sabia?  
            Fiquei chateada comigo mesma por não ter reconhecido nas tantas pacientes que passaram diante dos meus olhos antes de que eu fosse mãe. Fiquei triste com as minhas amigas, minha família, com meus professores e até com o mundo. Por que ninguém me falou sobre isso?? Eu só queria gritar!
            Afinal, a mulher que eu via no espelho não era eu. Todos esperavam de mim alguns sentimentos e sorrisos que se negavam surgir em mim ainda. 
            Senti o escuro da solidão mesmo estando rodeada de gente feliz e com um bebê super saudável em meus braços. 
            Eu senti a dor física dos pontos que nunca imaginei que doessem daquela maneira, uma vez que o pior do parto já havia passado. 
            Até que um dia, acabada com a frustração e a negação de tudo isso, e com um bebê que só sabia mamar, mamar e mamar o dia inteiro, acabada por não conseguir dormir mais de duas horas seguidas e decepcionada com um marido que não o reconhecia, minha mãe entrou pela porta da minha casa, secou cada uma das minhas lágrimas e me disse: “Isso é o puerpério. São quinze dias. Vai passar, minha filha, vai passar. Te prometo”.  E ela não errou, porque passou. Ele se foi e eu voltei a ser o que eu era.
             Assim, querida mamãe, quando seu filho nascer, se você entrar nesse túnel escuro do puerpério, não sofra. Não sofra porque isso é normal. Os níveis de estrogênio e progesterona cairão bruscamente e este será o motivo de sua inquietação. 
            Preste atenção: não faça muitas perguntas. Não desconte no seu parceiro, na sua família, o problema não está neles. Não pense muito. 
            Preocupe-se apenas em recuperar-se o quanto antes. Consulte um médico se estiver sentindo dor, porque ninguém deve sentir dor. Afinal hoje em dia há remédios para quase todas as dores. E se você estiver amamentando, fale com o pediatras. Existem remédios que podem ser tomados nesta época. Por favor, não sinta dor física. 
            A dor emocional se vai, sozinha. E irá porque assim é a nossa natureza feminina. Em menos de um mês ela já terá ido. Mas se passar de um mês e você piorar, se a angústia continuar escurecendo os seus dias, se a tristeza, a falta de energia, a apatia forem tão grandes que você não se sente capaz de cuidar nem mesmo de você mesma, converse com o pediatra ou o seu ginecologista, pois você pode estar passando por uma depressão pós-parto e isso já não é normal. 
            Assim que você superar o primeiro mês (porque a sensação é de superação mesmo), você descobrirá o maravilhoso e apaixonante mundo da maternidade e fará as pazes com esses primeiros dias tão escuros e difíceis. 
            Você vai desejar estar com o seu filho o tempo todo e voltará a ver o seu marido como aquele homem pelo qual você se apaixonou um dia e resolveu formar uma família. 
            Há uns dias, durante uma entrevista, me perguntaram: “O que você diria a uma mãe preocupada, agoniada e estressada e que só consegue ver a maternidade como uma montanha difícil de ser escalada?” 
            Eu respondi: Que de fato é uma montanha, mas uma montanha às vezes íngrime, às vezes fria, porque o inverno chegou e talvez você não tenha levado a roupa adequada, mas que ela pense que essa montanha tem uma ladeira linda repleta de flores na primavera e que ela poderá aproveitar de seus cheiros e cores e que, sem dúvida nenhuma, será uma montanha maravilhosa e impossível de repetir. Eu diria que ela deve viver essa experiência. Vivê-la intensamente! E diria também que ela estará a ponto de realizar a viagem mais apaixonante da vida e sem direito a bilhete de volta. 
            Aproveite-a! Viva-a! Sinta-a!
 
 Nana.
Publicado originalmente em luciamipediatra.com. Texto de Lucía Bertrand.  Tradução e adaptação livres: Mãe Só Tem Uma. Os direitos Autorais no Brasil são regulamentados pela Lei 9.610. A violação destes direitos está prevista no artigo 184 do Código Penal. Este artigo pode ser publicado em outros sites, sem prévia autorização, desde que citando o autor e a fonte.