Vitamina N: seu filho recebe?

Eu quero falar sobre uma vitamina essencial que você provavelmente nunca ouviu falar. Se você é um pai/ mãe ou planeja ser um/uma, essa vitamina pode ser mais importante para o crescimento do seu filho do que todas as outras juntas. E só você, um pai/mãe, pode fornecê-la.

Eu a chamo de vitamina N – a palavra “Não”.

Mais e mais crianças com as quais eu me deparo sofrem de deficiência de vitamina N. E elas, seus pais e toda a nossa cultura estão pagando o preço.

Deixe-me ilustrar o meu ponto com uma história que é muito típica. Um pai que vou chamá-lo de João, deu ao seu filho de 5 anos, praticamente tudo o que o menino pediu. Como a maioria dos pais, João queria mais do que qualquer coisa que seu filho fosse feliz. Mas ele não era. Ao invés disso, ele era petulante, temperamental e muitas vezes mal-humorado. Ele também estava tendo problemas para se dar bem com outras crianças. Além disso, ele era muito exigente e raramente ou nunca expressou qualquer apreço ou gratidão por todas as coisas que seus pais estavam lhe dando. Seu filho estava deprimido? João queria saber. Precisava de terapia?

Seu filho, eu disse a ele, estava sofrendo os sintomas previsíveis de ser excessivamente indulgente. O que ele precisava era de uma dose saudável e constante de vitamina N. O excesso de indulgência – uma deficiência de vitamina N – leva a sua própria forma de vício. Quando o ponto de retorno decrescente é ultrapassado (e é passado bastante cedo), a recepção de coisas começa a gerar nada, além de querer mais coisas. Um efeito terrível disso é que nossos filhos estão se acostumando a um padrão material que está fora de ordem com o que eles podem esperar alcançar como adultos.

Considere também que muitas, senão a maioria das crianças, atingem este nível de afluência não por esforço, sacrifício ou fazer o seu melhor, mas choramingando, exigindo e manipulando. Assim, no processo de inflar suas expectativas materiais, também ensinamos as crianças que elas podem conseguir qualquer coisa do nada. Isso não é só uma mentira, como também é uma das atitudes mais perigosas e destrutivas que uma pessoa pode adquirir.

Pode ser uma longa história pra explicar o porquê que a saúde mental das crianças na década de 1950 – quando as crianças tinham muito menos – era significativamente melhor do que a saúde mental das crianças de hoje.

Desde os anos 50, e especialmente nas últimas décadas, enquanto a indulgência tornou-se a norma parental, as taxas de depressão infantil e adolescente dispararam. As crianças que crescem acreditando no conto de fadas do “tudo-do-nada” são susceptíveis de se tornar adultos emocionalmente atrofiados e egocêntricos. Então, quando eles próprios se tornam pais, eles são susceptíveis a mimar seus filhos com coisas materiais – as pilhas de brinquedos, bichos de pelúcia e eletrônicos – que se encontram espalhados na maioria das casas. Dessa forma, o excesso de indulgência – uma deficiência da vitamina N – torna-se uma doença hereditária, um vício que passou de uma geração para a próxima. Isso também explica porque as crianças que recebem muito do que eles querem, raramente tomam cuidado com qualquer coisas que eles têm. Por que eles deveriam? Afinal, a experiência diz a eles que mais está sempre a caminho.

As crianças merecem o melhor. Eles merecem ter pais para cuidar de suas necessidade de proteção, carinho e direção. Além disso, elas merecem ouvir seus pais dizerem “não” muito mais vezes do que “sim” quando se trata de seus desejos caprichosos. Eles merecem aprender o valor do esforço construtivo e criativo, o que é oposto ao valor do esforço gasto choramingando deitado no chão, chutando e gritando ou jogando um dos pais contra o outro. Eles merecem aprender que o trabalho é a única maneira verdadeiramente gratificante de obter qualquer coisa de valor na vida. E que, quanto mais duro elas se esforçarem, mais completo será o êxito.

No processo de tentar proteger as crianças da frustração, os pais viraram a realidade de cabeça para baixo. Uma criança criada nesta forma invertida pode não ter as habilidade necessárias para se virar sozinha, quando chegar a hora disso.

Aqui vai uma regra simples: vire o mundo dos seus filhos de cabeça para cima, dando-lhes tudo o que eles realmente precisam, mas não mais de 25% do que eles simplesmente querem.

Eu chamo isso de “Príncipio de Privação Benigna”. Quando tudo isso é dito e feito, a palavra de três letras que mais constrói caráter na língua portuguesa é “não”: vitamina N. Distribua-a com frequência. Você será mais feliz a longo prazo e assim será o seu filho.

John Rosemond – autor e psicólogo familiar

 

Se quiser saber mais sobre este assunto, leia também sobre Infantolatria.

 

Publicado originalmente em Prager University – autor John Rosemond – Tradução: Filipe Pontes. Adaptação livre: Mãe Só Tem Uma. Os direitos autorais no Brasil são regulamentados pela Lei 9.610. A violação destes direitos está prevista no artigo 184 do Código Penal. Este artigo pode ser publicado em outros sites, sem prévia autorização, desde que citando o autor e a fonte.