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Expectativas Maternas

Desabafo de uma grávida

Começo minha história dizendo que minha vida sempre foi muito organizada. Planejei tudo que eu desejei, e na maioria das vezes deu certo.  Na faixa dos 30 anos eu estava casada, feliz, e com a vida em dia. Sempre me imaginei sendo mãe com esta idade, bem, estava na hora de continuar os planos e pensar em engravidar.  Mas antes, eu senti  a necessidade de preparar meu corpo para a gravidez.

Sou do tipo de mulher que luta contra a balança desde adolescência. Vivo tomando conta da alimentação para me manter no peso certo. Depois de casada engordei 8kgs. Nunca fui chegada a fazer exercícios físicos, mas sou muito gulosa por doces. Com a ideia da gravidez, eu comecei a me incomodar com o meu sobrepeso e a falta de disposição para as tarefas diárias. Eu me sentia mal em engravidar e engordar mais ainda ou não conseguir voltar ao corpo de antes.

Depois de ler muito sobre como é importante engravidar estando dentro do peso, eu não pensei duas vezes e comecei a praticar exercícios e a fazer uma alimentação balanceada e acompanhada por nutricionista.  E foi assim por 1 ano inteiro. O resultado não podia ser melhor. Eu estava magra, com um corpo que me agradava, e focada em perder aquela barriguinha! Simplesmente apaixonada pela minha nova rotina de alimentação saudável e exercícios. Estava me sentindo linda, com a autoestima lá em cima e vendo todo o meu esforço me dando ótimos resultados. Bom, o corpo estava preparado, agora chegou a hora de parar com a pílula.

Perfeito, em apenas 5 meses de tentativas, eu engravidei. Tudo estava indo como o planejado… até eu engravidar e passar pelo primeiro trimestre.  A primeira coisa que eu precisei mudar foi a rotina de exercícios e a alimentação. Hábitos que eu conquistei e que estavam me dando tanto prazer foram completamente modificados. Eu sentia cólicas nos primeiros meses e por recomendações médicas eu só podia fazer exercícios leves. A alimentação não podia ser tão restrita em carboidrato e consequentemente eu comecei a mudar meu corpo quase que de imediato. Novamente eu voltei a me enxergar gordinha!

Começaram então os sintomas da gravidez, enjoos, azias, pressão baixa, sensação de fraqueza e desmaio. Eu me sentia doente e não grávida. Isso mexeu muito com o meu emocional. Eu cheguei a pensar, “Será que eu quero mesmo ser mãe?” “Se eu soubesse que gravidez era assim eu não teria engravidado”. E aí eu me sentia culpada por pensar assim, afinal, eu planejei aquilo tudo, eu desejei, como eu poderia estar arrependida? Eu simplesmente não me entendia. Tudo o que eu sentia era medo, insegurança. E por quê? Eu não sabia explicar, eu simplesmente sentia. Seria simplesmente os hormônios a flor da pele?

Bom, minha confusão emocional não tinha parado por aí. Além de eu ter planejado toda a gravidez, eu simplesmente cheguei a loucura de planejar ser mãe de uma menina. Eu sempre me via sendo mãe de menina, decorando o quarto cheio de lacinhos cor de rosa, princesas e vestidinhos. No dia da ultrassonografia para saber o sexo, eu já tinha absoluta certeza de ser uma menina, mas…. O médico me deu a noticia de que era um menino.

Minha decepção foi tamanha que eu perguntei ao médico cinco vezes se ele tinha certeza de que era um menino. Eu chorei de imediato, bateu aquela tristeza, uma frustração sem fim. Senti como se eu estivesse perdendo o controle dos meus planos.

Este dia foi de um arrebatamento emocional do qual eu nunca tinha passado. Eu me culpava por não estar aceitando a notícia, eu me culpava por estar rejeitando meu filho. Eu me culpava por não estar me sentindo feliz com a gravidez, uma coisa que eu sempre desejei. Eu me culpava por tudo. Chorei praticamente o dia todo. Eu andava pela rua olhando todas as mães com crianças, mulheres grávidas e principalmente as mães com seus filhos meninos. Como era ser mãe de menino? Eu teria que aprender.

Entrei numa loja infantil e comprei a primeira roupinha de bebe azul. Eu precisava experimentar como seria comprar coisas de meninos, me permitir a sensação de pensar no meu filho menino. Nesse dia ouvi coisas comuns de algumas pessoas conhecidas e cientes da minha dificuldade de aceitação e outras desconhecidas que nem mesmo sabiam da minha frustração de aceitar a novidade que me ajudaram  muito a refletir, frases como, “eu não tive filhos, mas se eu tivesse queria ter tido um menino”, “você tá reclamando porque é um menino, tanta gente querendo engravidar e não consegue” “olha como você e o seu bebe estão saudáveis” “quem sabe dessas coisas é Deus, você tem que aceitar” “Depois que nascer você vai se apaixonar” “menino é mais agarrado com a mãe”.

Foi um dia inesquecível! Palavras bobas mas que me ajudaram a refletir e a aceitar que eu não tenho poder para definir certas coisas que a vida nos guarda. Eu não posso dizer que superei de imediato todas essas emoções, eu demorei um pouco para assimilar, aceitar e trabalhar sozinha meu psicológico para receber esse menino de braços e coração aberto.  Poucas pessoas compreendem o que é sentir tudo isso. Muitos banalizam o momento da gravidez e os planejamentos dos pais.  Escrevi aqui um pouco da minha historia, não para ser julgada, mas para ajudar as mulheres que tenham passado por sentimentos semelhantes. Por compreender que a mulher gravida tem muita dificuldade de expor suas inseguranças e serem criticadas.  Não nos cabe julgar, cada um é dono dos seus sentimentos. Gravidez é um momento especial da mulher e cheio de detalhes.

    Daqui a poucos meses estarei com meu filho no colo e hoje eu posso afirmar que estou ansiosa pela chegada dele, quero ver seu rostinho, sentir seu cheirinho, amamenta-lo em meu seio, sentir seu calor. Hoje eu sinto que finalmente o amor de mãe esta surgindo em mim. Toda aquela rejeição inicial me deixou marcas profundas, mas consegui cicatrizá-las. Tive muito apoio familiar que foi extremamente importante para que eu superasse tudo isso e agora sinto prazer em decorar o quarto todo em azul, com carrinhos, bichinhos e shortinhos.

Fiquem com Deus!

Leitora anônima do blog Mãe Só Tem Uma.