Contrato de maternidade

 

Essa semana, entrei em um desses sites que temos que nos cadastrar e aceitar os termos de compromisso. Não li as regras, por preguiça de ler as letras minúsculas, falta de tempo e ansiedade em resolver logo a minha situação. À noite, quando fui dormir, me lembrei do que aconteceu e estava pensando que, no fundo, a maternidade é como esses sites que tem o termo de compromisso. Você acessa o você o site, não lê os termos e no final clica em: “Li e aceito os termos do contrato”. É exatamente assim. Por mais que você imagine o que passará, você nunca terá certeza até que passe.

Não entendeu? Pensa só comigo!

Quando a gente pensa em ter filho, sempre imaginamos a parte glamorosa: barriga, fotos do parto, mãe emocionada com cada descoberta do bebê, festas de aniversário, alegria por ter alguém com quem você vai se preocupar por toda a vida e afins, mas, no fundo, ninguém se lembra da parte escura da maternidade. Aquela dos bastidores mesmo que ninguém posta em rede social, que muitos dizem que é frescura e não tem nenhum glamour.

Essa parte pra mim são como as letras do contrato que são pequenas e que dão uma preguiiiiça só de pensar em ler. O que é que a gente faz? Vai lá e clica em “ACEITO”.

Ninguém leu lá nas regrinhas seus direitos e deveres. Ou leram? Quer ver só um exemplo de quando me dou conta de que estava tudo escrito mas eu não li?

Tem dia que chega à noite, eu me deito na cama exausta e, quando dá tempo, paro pra pensar no meu dia e me bate uma sensação de ter fracassado nas minhas metas.
Eu quis ter ficado mais tempo com o meu pequeno, mas os afazeres diários não me permitiram. Foi o trabalho, a lista de compras, as contas a pagar, foi ligar pro pedreiro, resolver problema do condomínio, fazer compras, ir à reunião de pais na escola, escrever textos pro blog, corrigir provas, montar aula, lançar notas, ufa… Meu dia poderia ter 48 horas, mas, é, não tem. Essas mil atividades me fazem lembrar de que não pude ficar com o meu bebê o tempo que eu acho que ele precisa ao meu lado. Estava lá no contrato que eu deveria aprender a fazer 1000 atividades ao mesmo tempo, mas eu não li.

Durante o dia, quando fico com o meu anjinho, o cansaço me consome. É tanta energia em um ser tão pequenino que não sei como é possível! É um sem fim de anda atrás do pequeno, bota todos os objetos pra cima para que ele não tenha fácil acesso, fala ‘não’, ‘não faça’, ‘solta isso’, ‘deixa aquilo’, ‘devolve isso pra mamãe’… São gritinhos, chororô, tudo isso cansa, cansa a rotina, cansa o desgaste. Isso deveria estar lá no contrato, mas eu não li.

Tem dia que eu só desejava dormir até meio-dia, sem me preocupar com nada. Tem vezes que eu só queria achar a minha sala lindinha como antes. Tem momentos que eu só esperava que o bebê tivesse um botão de off pra desligar nas horas dos escândalos. Há vezes que eu só queria voltar a uns minutinhos da minha vida sem filhos, sem as preocupações de antes e poder passar a tarde toda na praia batendo um bom papo com as amigas.
Mas aí vem a danada da culpa, porque mãe que não carrega culpa, não é mãe, não é? Eu acho que essa daí, já vem junto com a barriga do bebê. Fiquei pensando, tava lá no contrato: “A partir de agora, conhecerás o verdadeiro sentimento de culpa por toda e qualquer coisa que lhe aconteça.” E o que eu fiz? Não vi essa cláusula.

Eu juro que deveria ter lido uma parte do contrato que dizia que dormir se tornaria um artigo de luxo, que o cansaço estaria sempre sobre os meus ombros e que mesmo o melhor corretivo facial não conseguiria esconder todas as olheiras que carregarei nos primeiro anos, mas não li.

E eu estou certa de que tinha um outro item que diria que além da culpa, a dúvida me faria uma companhia constante sobre como eu estou criando o meu filho: será que está certo? Será que devo permitir ou proibir isso ou aquilo? Mas o Beltraninho filho da Mariazinha não faz o que o meu está fazendo… é, e eu não li…

Dentre tantas outras cláusulas que poderia enumerar, tem uma que deve estar lá que se chama: Sobre os direitos da maternidade. E essa eu já conheci. Deve dizer assim: é seu direito emocionar-se com pequenos atos, descobertas, novidades, conquistas do seu filho.

É seu direito se sentir a melhor e mais importante de todas as mulheres cada vez que seu filho te trouxer um presentinho que ele mesmo fez ou disser: “Mamãe, eu te amo”.

É seu direito passar a noite admirando a cria, extasiada com a velocidade com que ele cresce e pensar que ele é o melhor presente do mundo.

É também direito da mãe saber que por algum tempo da vida dele, você será o centro do universo.

E disso tudo, quer saber? Eu acho que foi bom não ter lido nenhuma cláusula, descobrir na base da surpresa torna a maternidade muito mais emocionante e deliciosa. Cada fase é repleta de novidades e conquistas pessoais que nos fazem amadurecer diariamente.

E por aí, alguém já leu o contrato inteiro?

Beijos carinhosos,

Nana